Depois da terceira xícara de café, o seu único entretimento era perpassar os dedos pela borda da xícara que ganhou dela, ouvindo as músicas que ele indicou pra ela, e que se tornaram deles, mesmo que embalando histórias diferentes, em momentos diferentes, com sentidos diferentes. Mas, no fundo, o que a música representava era a melancolia, a característica escondida dos dois. Ele sofria pra si, ela para todos.
Os rascunhos e os trechos, que era ele, enchiam a mesa, nada do que ele escrevia fazia muito sentido. As palavras bonitas, o confuso e as sensações estranhas, que era ela, não eram o bastante. O que sobrava era a caneca e o café, que eram eles.
Escrever tornara-se tão difícil quanto um dia já foi fácil, ela estava longe. Porque tentar decifrá-la através de palavras era o seu maior desafio e seu maior hobby. Quando arriscava entender as histórias dela (ou ela em si) era divertido, a sensação era de alguém que através de pistas desvenda um grande mistério. Quando escrevia suas próprias histórias era por necessidade, era mexer no que faz mal pra se sentir bem. Tudo muito surreal, mas que ela entendia tão bem, que ele continuava. Ele criava histórias das fantasias dela, ela acatava. E assim eles viviam a vida real mais bonita que alguém podia ter.
E agora, que é um pra lá e outro pra cá, o que era uma sinfonia perfeita entrou em descompasso. Ela tem medo de fantasiar, e se todo mundo pensar que é loucura? Ele pensava isso, mas achava graça, porque ele entendia, eram eles. Ele não tem mais histórias, falta matéria-prima, falta ela.
Mas antes que seja tarde, vale dizer que melancolia não é o mesmo que tristeza, eles sabem disso. Daí vivem a vida real que é só deles em mundos diferentes. Basta um abraço ou um piscar de olhos de vez em quando pra saber que nada mudou. E mesmo que ninguém entenda o porquê de uma xícara, ele saberá: é uma forma de conciliar um dos seus maiores vícios, o café e ela.
Os rascunhos e os trechos, que era ele, enchiam a mesa, nada do que ele escrevia fazia muito sentido. As palavras bonitas, o confuso e as sensações estranhas, que era ela, não eram o bastante. O que sobrava era a caneca e o café, que eram eles.
Escrever tornara-se tão difícil quanto um dia já foi fácil, ela estava longe. Porque tentar decifrá-la através de palavras era o seu maior desafio e seu maior hobby. Quando arriscava entender as histórias dela (ou ela em si) era divertido, a sensação era de alguém que através de pistas desvenda um grande mistério. Quando escrevia suas próprias histórias era por necessidade, era mexer no que faz mal pra se sentir bem. Tudo muito surreal, mas que ela entendia tão bem, que ele continuava. Ele criava histórias das fantasias dela, ela acatava. E assim eles viviam a vida real mais bonita que alguém podia ter.
E agora, que é um pra lá e outro pra cá, o que era uma sinfonia perfeita entrou em descompasso. Ela tem medo de fantasiar, e se todo mundo pensar que é loucura? Ele pensava isso, mas achava graça, porque ele entendia, eram eles. Ele não tem mais histórias, falta matéria-prima, falta ela.
Mas antes que seja tarde, vale dizer que melancolia não é o mesmo que tristeza, eles sabem disso. Daí vivem a vida real que é só deles em mundos diferentes. Basta um abraço ou um piscar de olhos de vez em quando pra saber que nada mudou. E mesmo que ninguém entenda o porquê de uma xícara, ele saberá: é uma forma de conciliar um dos seus maiores vícios, o café e ela.
Alan Vignoli, 2010
Puxa que show! Estava escrevendo e queria pesquisar as xícaras mais nobres pro meu texto e encontrei seu blog ! Muito legal mesmo.
ResponderExcluirOlá, Robson:
ResponderExcluirque bom! Continue a me visitar sempre.
Seu texto é sobre xícaras? Posso ler?
Fico sempre à procura de mais material sobre o assunto.
Um abraço.
Irene Jardim