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quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Donatelo, o escritor. A xícara de café

     O cheiro do café tinha um gosto saboroso, Donatelo podia quase degustá-lo. Era forte, como as coisas da natureza tendem a ser. Mexeu um pouco na xícara, a fumaça subia, espalhava-se por toda a cozinha, o líquido ainda estava muito quente.
     Era engraçado encarar o café, ali, movendo-se lentamente ao balançar de suas mãos; negro, impenetrável. Donatelo o olhava, fascinado. Como as pessoas gostam desse líquido escuro! E como ele é misterioso. Outro dia, passava em uma loja e notou que existiam mais de cinqüenta tipos diferentes de café. Era um para cada gosto, as formas das mais variadas. De certo, era uma bebida democrática. Existia uma para cada tipo de pessoa. Assim ninguém precisava experimentar nada de diferente, ele pensava. No fundo, era como as pessoas de sua rua, cada um escolhia o seu grupo e ficava por lá, alheio aos outros sabores.
     Olhou o café na xícara, a fumaça diminuía, agora já subindo lentamente até a ponta do nariz. Como o cheiro era gostoso! Abria sua mente, disso tinha certeza; sentia-se mais sábio.
     O líquido lhe pareceu mais escuro, talvez por causa da temperatura fria. A forma tinha se modificado lentamente. Tratava-se de fato de uma bebida intimamente ligada às formas. Talvez por isso fosse tão consumida por tanta gente e em tantos níveis da sociedade. Aqui, ninguém parece dar muita importância ao conteúdo, interessam a forma e o efeito. E isso o café tem muito! O cheiro toma toda uma sala e a bebida, pelo que dizem, faz as pessoas trabalharem ainda mais rápido.
     Com um sorriso no rosto, Donatelo se levantou, pegou a xícara com cuidado e jogou o conteúdo na pia. Ele gostava muito do cheiro do café, ajudava-o a pensar. Mas assim que ele esfriava, já não tinha mais graça, era hora de se preocupar com seus outros afazeres. O gosto... esse era terrível. Achava peculiar que o cheiro fosse tão bom.


Leonardo Schabbach, agosto/2010
Publicado originalmente no blog /www.napontadoslapis.com.br

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