Da mais fina porcelana chinesa,
pintada à mão, dinastia Mink;
frequentava as cortes,
mãos reais,
a mais alta elite me admirava.
Um dia, num jantar, alguém tocou em mim,
tirando uma pequena lasquinha;
fui relegada à um canto, já não era perfeita.
Colocaram-me em um armário, esqueceram de mim.
O tempo passou, vagaroso, se arrastando . . .
e eu ali, no canto do armário, esquecida.
Não ouvia mais elogios à minha beleza,
ninguém sentia minha falta.
Um dia, já cheia de teias e poeira,
alguém me pegou, limpou, levou-me embora.
Outra casa, outra vida, outra época.
Classe alta, mas não eram nobres.
Fui colocada sobre a lareira, via tudo.
Crianças alegres, famílias felizes.
Eis que o destino, mais uma vez, atrapalha.
Alguém limpava a lareira, deixou-me cair.
Desta vez, quebrou-se minha asa . . .
mais uma vez, esquecida em um armário.
Depois de muito tempo, alguém, um dia,
tirou-me de lá, levou-me embora.
Novamente limpa, lavada, lugar de destaque
em casa simples, família simples.
Todos admiravam a perfeição de minha pintura,
a leveza dos traços, a delicadeza dos desenhos.
Mais uma vez eu era feliz.
Um dia, um gato perseguia um rato;
me derrubaram, pedaços por todo lado . . .
e eu, agora aqui, no cesto de lixo.
Frequentei altas rodas, festas luxuosas,
conheci todos os mundos, vi todas as pessoas.
Agora, só resta o lixo, pois não sirvo mais . . .
toda minha vida, de fausto e alegrias,
acabou-se por causa de um gato.
Sílvia Purper, 2007.
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