Anita Zippin
Na xícara de D. Pedro II… a tarde abençoava o diálogo entre dois
verdadeiros amigos, onde a conversa pura, sincera, foi a tônica de um lugar
encantador.
Na xícara de D. Pedro II… cintilavam os cristais, bem como o espelho
centenário emoldurado pelas mais belas telas, todas com história especial para
contar ou para guardar no lugar especial ao lado esquerdo do peito, onde os
amigos fazem morada.
Na xícara de D. Pedro II… a câmera fotográfica passeava pelo denso e
luxuoso tapete, a marcar o momento onde duas pessoas iriam largar as encenações
necessárias à sobrevivência e iriam falar em paz, sobre a bondade, a verdade, o
amor aos ancestrais, o respeito pelas expressões culturais, o encanto pela
Sétima Arte.
Na xícara de D. Pedro II… o Palácio Iguaçu começava a acender as luzes
para que a bandeira verde e amarela tremulasse, talvez desejando a todos os que
ali permaneciam trabalhando, a melhor das inspirações em momentos de decisão.
Na xícara de D. Pedro II… um piano se calava, saudades de quem o afagava
ou mesmo aplaudia aqueles que ali vinham colocar a inspiração no ar, a senhora
que hoje é uma lembrança, doce lembranca que ocupa todos os espaços, desde os
luxuosos móveis até o simpático jardim com plantas exóticas.
Na xícara de D. Pedro II… os amigos comemoraram o encontro, bem como a
alegria de estarem a conversar ao redor de um delicioso café e “petit four” a
lembrar os tradicionais cafés de Buenos Aires, não sem antes passarem, em
pensamento, pela Praça 9 de Julho, pelo canhão do Clube Militar, pelos
maravilhosos afrescos da Galeria Pacífico.
Na xícara de D. Pedro II… os planos culturais permaneceram em primeiro
lugar, os valores morais e espirituais aprendidos na casa paterna puderam
aparecer bem, uma vez que duas almas parecidas falavam do mundo, como se
acreditassem em outras vidas, razão para diminuir as saudades sentidas pelos
que já foram morar nas estrelas.
Na xícara de D. Pedro II… os amigos fizeram um brinde à paz mundial,
sonhando um dia poder encontrar todos felizes, alegres, sadios, sabedores de
que o final do século é um espelho para que os erros do passado jamais se
repitam.
Na xícara de D. Pedro II… existiu o até-breve, o abraço fraterno de quem
sabe diferenciar amigos de conhecidos, e com um sorriso espontâneo como se no
local tivesse ímã, tal era a vontade de ali permanecer para sempre, sentindo um
oásis de calmaria no meio da tormenta, ela partiu.
Na xícara de D. Pedro II… ficou a marca daquele momento invejado pelas
melhores películas, como o encontro de duas essências que algum dia resolveram
se encontrar e nunca mais se desprender, como se já fossem eternos conhecidos.
Na xícara de D. Pedro II… ah!, na xícara de D. Pedro II… ficou o ouro e
a prata a simbolizar a sensibilidade que pode unir pessoas estranhas como se
fossem os maiores parentes.
Será que ao tomar café naquela xícara, D. Pedro II conseguiu ser tão
feliz?
N.A.: Dedicado ao advogado e jornalista Francisco Souto Neto,
o amigo perfeito para apreciar uma histórica xícara de café.
E muito mais
Crônica de Anita Zippin (escritora paranaense) publicada no Jornal Indústria & Comércio, de 24 de julho de 1998, na qual a autora revela as impressões da sua visita ao advogado e jornalista Francisco Souto Neto.
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