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terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Café expresso

Café-expresso — está escrito na porta.
Entro com muita pressa. Meio tonto,
por haver acordado tão cedo...

E pronto! parece um brinquedo...
cai o café na xícara pra gente
maquinalmente.

E eu sinto o gosto, o aroma, o sangue quente de São Paulo
nesta pequena noite líquida e cheirosa
que é a minha xícara de café.

A minha xícara de café
é o resumo de todas as coisas que vi na fazenda e me vêm à memória
apagada...

Na minha memória anda um carro de bois a bater as porteiras da
estrada...


Na minha memória pousou um pinhé a gritar: crapinhé!
E passam uns homens
que levam às costas
jacás multicores
com grãos de café.

E piscam lá dentro, no fundo do meu coração,
uns olhos negros de cabocla a olhar pra mim
com seu vestido de alecrim e pés no chão.

E uma casinha cor de luar na tarde roxo-rosa
Um cuitelinho verde sussurrando enfiando o bico na catléia

cor de sol que floriu no portão
E o fazendeiro, calculando a safra do espigão...

Mas acima de tudo
aqueles olhos de veludo da cabocla maliciosa a olhar pra mim
como dois grandes pingos de café
que me caíram dentro da alma
e me deixaram pensativo assim...

CASSIANO RICARDO
1895 - 1974

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