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quarta-feira, 30 de junho de 2010

Xícara chinesa

Miniatura de xícara de café (somente decorativa), comprada em Boston, EUA. Gesso branco, pintado de azul, com a inscrição "Boston tea party". O pires tem a figura de um navio em relevo.

Moça, a senhora é rica?

Era inverno e elas entraram às pressas pela porta dos fundos – duas crianças em casacos surrados e pequenos para o seu tamanho.
"A senhora tem aí uns jornais velhos?"
Eu estava ocupada. Queria dizer não, mas olhei para os seus pés e vi que usavam sandálias abertas, cheias de gelo.
"Entrem, que eu faço uma xícara de chocolate para vocês."
Suas sandálias encharcadas deixaram marcas na pedra da lareira, mas eu não consegui reclamar. Servi o chocolate quente acompanhado de torradas com geléia e voltei para a cozinha, onde retornei meu trabalho.
Estranhando o silêncio na sala da frente, fui até lá ver o que estava acontecendo.
A menina segurava a xícara vazia e a olhava atentamente. O menino me perguntou numa voz sem emoção:
"Moça, a senhora é rica?"
"Rica? Eu? Misericórdia!" Olhei para meus estofados gastos.
A menina pôs a xícara sobre o pires, cuidadosamente.
"Suas xícaras combinam com os pires."
Sua voz era a de uma pessoa mais velha, com uma fome que não vinha do estômago.
Eles saíram, segurando os maços de jornal, lutando contra o vento. Nem agradeceram, mas não era necessário. Tinham feito muito mais do que isso. Xícaras e pires tão simples, de louça azul. Mas combinavam. Virei o assado e coloquei as batatas no molho. Batatas com molho ferrugem, um teto sobre a cabeça, meu marido com um emprego estável – essas coisas também combinavam.
Tirei as cadeiras de perto da lareira e limpei a sala. As pegadas cheias de lama ainda estavam por ali e eu as deixei ficar. Quero que permaneçam no mesmo lugar, caso eu me esqueça novamente de como sou rica.


Texto de Marion Doolan, parte do livro Histórias para Aquecer o Coração II (Jack Canfield e Mark Victor Hansen), Editora Sextante.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Xícara brasileira

Xícara de café da marca Porcelana Real. Delicada porcelana branca, pintada a mão, com frisos dourados, guirlandas marrons e raminhos de violetas roxas.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Xícara brasileira

Xícara de café em porcelana branca da marca Schmidt. Pintada à mão com ramos de rosas brancas e cor-de-rosa, frisos verde claro.

Na mesa

Sobre a toalha, o pão,
o bule, as xícaras, o café,
confabulam. Que dizem
no seu silêncio de coisas
tocadas de esperança,
da latente esperança
da manhã? Dir-se-ia
que se sentem ligados
à vida - ou que na vida
se irmanam, se confundem,
pousados sobre a mesa
como em seu próprio mundo,
pousados no silêncio
como se tudo fosse,
para eles, a dádiva
fascinante, translúcida.

A um canto, solitária,
uma faca os espia.


Alphonsus de Guimaraens Filho (1918-2008)

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Harry Herman Roseland

(1) Reading tea leaves

Harry Herman Roseland (1986-1950) era um pintor americano muito conceituado em seu estilo de pintura durante o século 19 e início do século 20. A maioria de suas pinturas mostra a vida de afro-americanos, contando histórias, provocando emoções, fazendo rir. São pinturas muito bonitas.

2) Morning coffee. (3) One more spoon.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Xícara brasileira

Xícara de café sem marca. Delicada peça em porcelana branca, pintada à mão com flores em tons de marrom e folhas verdes. Friso em dois tons de marrom.

Hoje, acabaram-se as xícaras

Maria Célia e eu tínhamos um jogo de 6 xícaras com seus respectivos pires. Semanas atrás, Maria Célia deixou cair uma xícara, mas salvou seu pires. Caiu-me outra xícara das mãos na semana seguinte, enquanto recordava uns versos de Augusto dos Anjos. A colher também escapou-me.

Despertei com o ruído na sala, Maria Célia recolhendo xícaras, copos, cinzeiros, o que restara mais que a memória de uns amigos da noite anterior. O jogo ia se tornando confuso com seus pires lascados, xícaras sem asa, e nenhum de nós se lembrava mais de quantas xícaras e pires havia de fato. Às vezes mais do que podíamos ver na bandeja. Às vezes menos.

Na manhã de sexta, encontrei um de seus bilhetes, itens caracterizados pelo grafismo travesso dela:
– tirar manteiga da geladeira
– comprar ovos
– leite
– não esquecer de contar as xícaras

Isso me incomodou, o último item. Pois na quinta ela havia contado 4 xícaras e 5 pires. E na terça, dois dias antes, pude reconhecer 2 xícaras e 3 pires. Sendo inadmissível que algum desses objetos tenha se reorganizado e retornado à bandeja voluntariamente, começamos a desconfiar que o tempo na verdade existia.

Observávamos o verdadeiro número de xícaras e pires restantes, o que não correspondia às nossas convicções e ainda nos espantava continuamente. Cada xícara que nos escapava vinha confirmar a Segunda Lei da Termodinâmica, variante daquela Lei de Murphy, que pressupõe o universo, tanto quanto o podemos considerar, um sistema fechado, no caminho irreversível da desordem. Assim, qualquer xícara da Rússia czarista ou seu similar entre os maias já tinha, desde sempre, seu destino comum: o espedaçar-se, o fragmentar-se de seu todo. Se por acaso uma delas ainda se conserva em alguma parte, não importa: jaz no silêncio de espera por sua trajetória fatal de cacos do futuro, pois não há, na seta do tempo, chances de eternidade para os corpos organizados.

A situação de tal forma tornara-se desconcertante que tivemos dificuldade em servir café a um amigo que nos veio visitar justamente num dia em que só encontramos uma xícara na bandeja, apesar dos cinco pires. Meu amigo, analista de sistemas e físico amador, compreende exatamente o que significa um pires, uma xícara, por isso ignora o deslumbramento. Também, por estar distraído com fórmulas e equações, não conhece o arrepio de se tentar deslindar, apenas com a intuição, o universo.

Maria Célia e eu temos xícaras e pires que não mais nos desafiam pela complexidade de suas variações. Nosso cotidiano nunca mais foi o mesmo desde que descobrimos o caráter inextricável das dimensões que interagem com a realidade humana, bem como as inúmeras possibilidades de nossos corpos quando juntos.

Hoje, perdemos a tesoura.

Perce Pollegato, 2001 (texto encontrado no livro Lisette Maris em seu Endereço de Inverno, do mesmo autor)

http://www.allprinteditora.com.br/produtos_det.php?cod_produto=397