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quinta-feira, 26 de agosto de 2010

A pequena xícara de café

[...] O que será, no fundo, essa história de encontrar um reino milenar, um éden, um outro mundo? TUdo o que se escreve atualmente, e que vale a pena ler, encontra-se orientado par a nostalgia, Complexo de Arcádia, regresso ao grande útero, back to Adam, le bon sauvage, Paraíso Perdido, perdido por buscarte, yo, sin luz para sempre [...] E aí surgem as ilhas ou os gurus (se houver grana para o avião Paris- Bombaim), ou, então, simplesmente segurar uma xícara de café e olhá-la por todos os lados, não como uma xícara de café, mas como uma testemunha da imensa burrice em que todos estamos metidos, acreditar que esse objetivo não passa de uma pequena xícara de café quando o mais idiota dos jornalistas encarregados de resumir para nós sei lá o quê, mais Planck e Heisenberg, se mata, procurando nos explicar em três colunas que tudo vibra e treme e que tudo está como um gato à espera de dar o enorme pulo de hidrogênio ou cobalto que nos deixará a todos de perna para cima. Na verdade, trata-se de um modo grosseiro de explicar as coisas. A pequena xícara de café é branca, o bom selvagem é marrom [...]

Este texto, extraído de Julio Cortazar, "O jogo da amarelinha", Editora Civilização Brasileira, 2007, p.436., me foi enviado por uma amiga em julho de 2010.

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