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sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

O ritual do café

Estampa-se o sol em delicados raios
Sobre o mármore branco e liso da cozinha.


Suavemente me debruço e uma porta abro,
Recolho a chávena fina e o florido prato.

Ergo o meu braço e num voo livre,
No gesto de um armário desvendar,
Recolho o nobre pó de inebriante aroma.

Alongo a mão que a gaveta encontra,
E dela escolho, enfim, a colher mais bela,
Brilhante, pequena, com terno recorte.

Tudo coloco em ordem e harmonia:
O prato tranquilo e a expectante chávena.
Nesta, o torrado grão moído, de castanho intenso.

No açúcar rico, centro o meu cuidado,
A montanha branca transportando, pura,
Em bojuda prata que doce se inclina.
E luzem cristais em cascata linda!

Depois, a água borbulhante, quente,
A mistura inunda, dissolvendo-a
Em espirais de espuma que a colher adorna.

Café! Café! Precioso encanto!

Em dégagé devant te cumprimento,
Os meus braços lanço em acolhimento grato.


Da janela aberta me acerco então.

Tão bela é a vista que o Outono pinta no jardim!
Castanho da terra e verde das plantas unem-se
À água que brilha em bebedouro antigo.

Aspiro, feliz, da manhã tranquila, o seu odor
A quente café e à relva orvalhada.
Olho o céu e sorvo um gole, outro e outro.

E assim me quedo, por instantes longos.
Entre o prazer forte do café e a doçura da manhã
Mais um dia de vida se inicia!

Ilona Bastos. Lisboa, 24-10-2004

 

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