Sobre o mármore branco e liso da cozinha.
Suavemente me
debruço e uma porta abro,
Recolho a chávena fina e o florido prato.
Recolho a chávena fina e o florido prato.
Ergo o meu braço
e num voo livre,
No gesto de um armário desvendar,
Recolho o nobre pó de inebriante aroma.
No gesto de um armário desvendar,
Recolho o nobre pó de inebriante aroma.
Alongo a mão que
a gaveta encontra,
E dela escolho, enfim, a colher mais bela,
Brilhante, pequena, com terno recorte.
E dela escolho, enfim, a colher mais bela,
Brilhante, pequena, com terno recorte.
Tudo coloco em
ordem e harmonia:
O prato tranquilo e a expectante chávena.
Nesta, o torrado
grão moído, de castanho intenso.O prato tranquilo e a expectante chávena.
No açúcar rico,
centro o meu cuidado,
A montanha branca transportando, pura,
Em bojuda prata que doce se inclina.
A montanha branca transportando, pura,
Em bojuda prata que doce se inclina.
E luzem cristais
em cascata linda!
Depois, a água
borbulhante, quente,
A mistura inunda, dissolvendo-a
Em espirais de espuma que a colher adorna.
A mistura inunda, dissolvendo-a
Em espirais de espuma que a colher adorna.
Café! Café!
Precioso encanto!
Em dégagé devant te cumprimento,
Os meus braços lanço em acolhimento grato.
Da janela aberta
me acerco então.
Tão bela é a
vista que o Outono pinta no jardim!
Castanho da terra e verde das plantas unem-se
À água que brilha em bebedouro antigo.
Castanho da terra e verde das plantas unem-se
À água que brilha em bebedouro antigo.
Aspiro, feliz,
da manhã tranquila, o seu odor
A quente café e à relva orvalhada.
Olho o céu e sorvo um gole, outro e outro.
A quente café e à relva orvalhada.
Olho o céu e sorvo um gole, outro e outro.
E assim me
quedo, por instantes longos.
Entre o prazer forte do café e a doçura da manhã
Mais um dia de vida se inicia!
Entre o prazer forte do café e a doçura da manhã
Mais um dia de vida se inicia!
Ilona Bastos.
Lisboa, 24-10-2004
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