Sempre que eu amo alguém eu faço chá. Quando eu
digo que amo não quero dizer que amo, meu amor é diferente, é como o amor das
pessoas que bebem chá de maracujá: calmo, quieto, e preguiçoso. Eu amo as
mulheres como bebo uma xícara de chá quente: devagar e intenso. Coloca o sachê
na xícara, derrama a água fervida, coloca açúcar e mexe. Isso, mexe.
Essa é uma
prosa sobre uma mulher que enquanto mexia seu chá, mexia seu corpo todo, e
sobre eu, que só queria ser aquela colher. Toma cuidado pra não queimar a boca,
moça, me bebe devagar. Mexe mais um pouco.
Chá de camomila a gente toma quando
tá doente, e como o chinês da Tiê diz enquanto toma seu chá verde: “fica feliz
que vai funcionar”. Me diz, você ta feliz assim?
Eu devia ter escrito um poema,
mas eu estava preparando um chá inglês, porque meu chá gelado de limão acabou,
e pensei em quando eu quebrei uma das minhas canecas favoritas. Aquela outra
moça se preocupou tanto com a minha caneca. A maioria das pessoas teriam
ignorado e continuado a tomar seus chás pretos e fortes.
O chá de hortelã é tão
leve quanto porcelana. Quando chove eu tomo chá de morango, e tomo chá mate
gelado para sobreviver de manhã.
Mas a verdade é que enquanto aquela moça mexia
seu chá de camomila e seu corpo, eu não pensava em ser colher, eu tava é
pensando em chá gelado de pêssego. A consistência do chá se baseia em nossas
vidas, meu chá ficou aguado.
LÊ FRANÇA
Crônica publicada originalmente no blog: https://cronicasamorasdohomemquevegeta.wordpress.com
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