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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Crônica da cafetina

- Um café com leite na xícara de bom tamanho, por favor. 

    Costumava pedir a bebida com leite integral e café adoçado, mas, por algum motivo de saúde, passou a pedir leite desnatado e café expresso sem açúcar. A garçonete pensou em perguntar o porquê da mudança, mas concluiu que talvez não fosse um assunto agradável para ser abordado ao final do expediente de seu cliente preferido - sim, garçonetes têm preferência por atender certos clientes, geralmente os que as tratam com gentileza e, sobretudo, olhando nos olhos. Mas isso não é regra.
    Todo fim de tarde, entre as cinco e meia e seis horas, o médico aparecia na cafeteria. Camisa branca dotada de sutis traços pontilhados, sandálias de couro, chapéu panamá e o incrível bigode branco cintilante... era impossível não notar sua presença e o viço que trazia consigo. Devia ter lá os seus sessenta anos de idade, mas estava em plena atividade no setor de Patologias do hospital.
    E todos os dias, nesse horário, o coração da garçonete se enchia. Não sabia definir bem aquele sentimento de admiração que a tomava, era metafísico demais. O que sabia, ou melhor, o que sentia, era uma profunda paz amaciando seus músculos, revelando seu melhor sorriso.
    Ele acenava com cortesia e logo se dirigia ao balcão. A garçonete desenhava espirais em seu café com leite. O dedo de prosa era agradável e incluía assuntos como cinema, música e comentários do cotidiano. Ela quase se esquecia de atender o resto dos fregueses durante essa troca, e os outros fregueses quase sempre se esqueciam de que o simples ato de fazer o pedido a uma garçonete é uma espécie de troca. Assim, o médico foi se tornando uma interrupção bem quista em sua rotina de frases feitas.
    - Você é muito gentil.
    - Obrigada, o senhor também é. - dizia ela, sem embaraço na voz.

E ele saía sempre com seu chapéu panamá.

Carolina Ito, outubro de 2010

Publicado originalmente no blog http://memoriastangiveis.blogspot.com, com o desenho aqui postado.

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